Corretor Nilton Weber foi indiciado por aplicar golpes em Joinville; há mais de 50 processos na Justiça contra ele e seu paradeiro é desconhecido
Mais um golpe imobiliário que destruiu sonhos e deixou vítimas desesperadas e até doentes em Joinville, no Norte de Santa Catarina. O prejuízo pode chegar a milhões.
Uma das vítimas, que prefere não se identificar, comprou um geminado na rua Carlos Drumont de Andrade, bairro Santa Catarina, zona Sul de Joinville. Em meados de 2017, ela procurou a Só Geminados Incorporadora Ltda., de propriedade do corretor de imóveis Nilton Weber, a fim de realizar o sonho da casa própria.
“Quero Justiça. Paguei pela casa”, diz uma das vítimas. – Foto: Reprodução imagens de Marcelo Thomazelli/NDTV
Comprou o geminado e pagou R$ 145 mil. Esse geminado é uma das oito unidades que compõe um conjunto residencial multifamiliar que há na rua que faz esquina com a Águas de Chapecó.
A vítima fez uma transferência de R$ 110 mil no dia 22/5/2017 e outra, de R$ 10 mil, no dia 4/5/2017. O saldo de R$ 25 mil parcelou no cartão de crédito. Tudo foi devidamente pago e comprovado.
No dia 2 de maio de 2017, foi celebrado o contrato de compra e venda entre a vítima e Nilton Weber. Chegou a reconhecer firma e tudo. A vítima, então, foi morar no geminado com contrato, água e luz em seu nome. Fez, por conta própria, pintura, arrumou o piso que havia quebrado, rebaixou gesso, obras que haviam sido prometidas pelo corretor e não foram cumpridas.
Um tempo depois, já em 2019, começou a tratativa para averbação e transferência de propriedade (a escritura). Ela cobrava documentação de Nilton Weber e simplesmente não tinha retorno. Foi aí que percebeu que havia caído em um golpe.
A vítima, então, contratou um advogado, que passou a fazer pesquisas de registros de imóveis. Pelo número da matrícula, constatou que o geminado negociado era de terceiros e não do próprio Nilton Weber, como ele havia declarado. Ou seja, vendeu um imóvel que não era dele.
Na época, antes do negócio com a vítima, Nilton até teria tentado negociar com os verdadeiros donos do geminado, mas não cumpriu as promessas e o negócio não foi concretizado. Mesmo assim, vendeu o imóvel como sendo seu para a vítima.
“Nunca imaginei que cairia em um golpe assim. Na época pareceu tudo certo: o geminado estava sendo construído, a imobiliária parecia ter boa índole. Mas depois descobri que a imobiliária saiu de Joinville e o dono tentou ser pastor, chegou a alugar um imóvel em Joinville, abrir uma igreja onde mandava os fieis comprar geminados que não pertencia a ele”, relata a vítima.
A vítima registrou Boletim de Ocorrência e o delegado Douglas de Cinque instaurou um inquérito. Após reunir provas, ouvir a vítima, quatro testemunhas e interrogar Nilton Weber, o delegado concluiu pelo indiciamento do corretor de imóveis. Foi em outubro de 2020, conforme mostra documento abaixo.
Foto: Reprodução documento/Divulgação ND
Além de ser lesada pelo corretor Nilton Weber, a vítima enfrenta, agora, processo dos verdadeiros donos do imóvel, que reivindicam a posse do imóvel. Pedro Paulo Duarte e Sueli Budal Duarte estão processando a vítima por invasão de domicílio.
Para tentar reaver o que pagou, a vítima entrou na Justiça com processo civil pedindo indenização.
“A vítima amarga prejuízo decorrente de uma vida inteira de trabalho, valores que foram ilicitamente auferidos por Nilton Weber em razão das práticas criminosas noticiadas nestes autos”, escreve o advogado em uma notícia crime em que denunciou o corretor de imóveis.
O objetivo é conseguir reaver o valor que pagou contando juros e correção monetária para poder comprar uma nova casa ou negociar com os donos de fato, conseguir a escritura e ficar no geminado.
“Eu só quero Justiça. Paguei pela casa. Não quero prejudicar ninguém. Tenho que sustentar meus filhos, minha casa e trabalho honestamente para isso. Quero meu dinheiro de volta ou o geminado escriturado no meu nome”, implora a vítima.
O que disse o corretor à Polícia Civil
Em um interrogatório conduzido pelo delegado Douglas Roberto de Cinque, datado de 7/10/2020, Nilton Weber disse que o proprietário o procurou para concluir uma obra e em contrapartida lhe deu uma unidade – que seria o geminado negociado com a vítima.
“O imóvel foi me dado como pagamento pela execução da obra”, disse à época Nilton Weber.
Essa obra, pelo que consta no processo, seria finalização de outras unidades do conjunto residencial multifamiliar com o total de 8 unidades.
“Não existe nada de irregular na questão da venda do imóvel para ela”, reforçou.
No final do interrogatório, o advogado complementou dizendo que a transferência do imóvel para a vítima só não havia sido feita porque faltava o habite-se e o dono estaria no exterior.
Nilton Weber, então, admitiu que houve um desacordo comercial entre ele e o dono da área. “Fiquei com equipe parada, teve desacordo comercial entre mim e ele e estamos resolvendo.”