Especialistas apontam que há diversos fatores para o aumento expressivo no litro do leite, entre eles o período do ano e o aumento no valor das rações
O preço do leite longa vida deu um salto nas últimas semanas e, em alguns supermercados de Santa Catarina, já há marcas vendendo o litro por R$8,50. Já em outros estados do país, o valor pode ser encontrado por até R$10. Especialistas apontam que há diversos fatores para esse aumento expressivo, entre eles o período do ano e o aumento no valor das rações.
No corredor de um supermercado em Chapecó, a dona de casa Rita Terezinha Vieda se assusta com o valor do leite longa vida. “Acho um absurdo o preço, mas precisamos comprar, não adianta. O que vamos fazer se necessitamos? Mas é um horror”, avalia. O aposentado Antenor Akio acrescenta: “Para famílias com criança fica difícil, né!?”.
Dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) que mede a inflação, revelam que este ano, desde janeiro, o leite longa vida ficou 28,5% mais caro, até o último dia 15 de junho. Só nos últimos 30 dias, a alta foi de 3,45%, bem acima da média dos alimentos no período, que subiram só 0,25%.
Para Selvino Giesel, presidente do Sindileite/SC (Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivado do Estado), o aumento no preço do leite pode ser atribuído ao crescimento das exportações e a queda nas importações, que reduziram a quantidade de leite disponível. “O Brasil tradicionalmente mais importa leite do que exporta, mas no começo deste ano aconteceu ao contrário, e isso diminuiu a oferta do produto no mercado interno”.
Além disso, o período seco de inverno tradicionalmente faz os preços do leite subirem, porque o pasto fica mais escasso, prejudicando a produção leiteira. Este ano, o La Niña, fenômeno climático que acentua a estação seca, também está entre os fatores, bem como a disparada nos preços dos fertilizantes, por causa da guerra na Ucrânia.
Giesel reforça que foram dois anos e meio de estiagem, onde o custo da ração para os animais elevou e a qualidade da pastagem caiu, o que disparou o gasto na produção. “Muitos produtores saíram da atividade e quem permaneceu diminuiu a quantidade de vacas. Outros estão produzindo menos, porque os animais, embora recebam comida, são de menor qualidade e, por consequência, a produtividade reduz.”
Produtor vê impactos
Wolmir Menegatti, produtor de Chapecó, viu todos esses fatores baterem na porta da propriedade localizada na Linha Rodeio Bonito. Com um rebanho de 36 vacas das raças Holandesa e Jersey, o agricultor relata que a produção dele caiu pela metade.
“Estou com uma média de produção baixíssima devido à silagem ruim e aos períodos de muito calor. Estou tendo uma produção diária de 500 litros, quando eu deveria estar produzindo 1000 litros com o mesmo número de vacas.”
Dois primos de Wolmir decidiram parar com a produção em razão dos altos custos para manter os trabalhos com o gado leiteiro. “Hoje encontramos comentários na internet sobre o preço do leite dizendo que ‘a vaca está comendo ouro’. Ela não está comendo ouro, mas é quase isso, porque o preço dos insumos está muito salgado para o produtor tratar bem o animal e ele produzir.”
Segundo dados do Cepea, o valor pago ao produtor de leite já subiu 20,6% este ano. Em maio, Wolmir recebeu R$2,75 pelo litro do leite.
Mudanças
André Braz, coordenador da pesquisa de preços da Fundação Getulio Vargas, acredita que a partir de agosto, com a volta das chuvas, os preços do leite tendem a dar um refresco.
“O inverno no Brasil é marcado por frio e pouca chuva. Esse baixo índice pluviométrico não contribui para o florescimento das pastagens. O gado não encontra alimento e, por essa situação, o volume de leite diminui temporariamente”, afirma Braz.
Além do leite, derivados do produto também sobem com força. O queijo subiu 10,25% e a manteiga, 9,53% só nos primeiros seis meses do ano.
Dificuldades para os mais carentes
Emerson Soares de Lima e Joselene Barbosa tem dois filhos, de 6 e 9 anos, que não ficam sem o leite nas refeições, principalmente no café da manhã. O casal afirma que com os preços em alta, está ficando apertado manter o produto na mesa.Emerson e Joselene e os filhos — Foto: Ezequiel Marsango/ND
“Com criança não tem como não comprar, às vezes tiramos dinheiro de outras coisas para comprar e não deixar faltar”, diz Emerson, que trabalha com reciclagem.
(NDmais)