Em mais uma edição do programa “Agro, Saúde e Cooperação” é possível aprender mais sobre esse peixe tão importante para o Estado e que também faz sucesso fora do país
A pesca da tainha não é só uma tradição em Santa Catarina. Ela garante o sustento de uma cadeia produtiva que envolve turismo, gastronomia, transportes, exportação e pesquisa
A safra da Tainha é uma tradição indígena datada do século 16 e que se renova ano após ano. No Brasil, cerca de 80% da pesca da tainha é realizada em Santa Catarina, onde é considerada um patrimônio cultural, um legado que faz parte da memória afetiva de muitas famílias, que movimenta o turismo, aquece o comércio e promove saúde.
A condição ideal para um bom lanço geralmente é durante o outono e o inverno, quando uma intensa massa de ar polar predomina no litoral catarinense. Algumas tainhas saem direto da areia da praia e vão para o fogão à lenha de alguns moradores da região. Outras chegam às mesas dos catarinenses por meio da pesca industrial.
Cotas garantem uma pesca mais sustentável
Jaime Fernandes, encarregado pela manutenção de embarcações de pesca no Porto de Itajaí, conta que a pesca é uma aventura em que se pode se sair bem, pode ganhar, empatar ou perder. Cada saída do barco para a pesca da tainha custa cerca de R$ 100 mil. Esse valor é referente a compra do gelo (aproximadamente 30 toneladas); diesel, alimentação e salário da tripulação.
Atualmente, a pesca industrial representa 25% do total, devido ao limite de cotas, introduzido em 2018. E segundo o oceanógrafo Luis Carlos Matsuda, esse sistema de cotas é um modelo de gestão pesqueira para todo o Brasil. Nas regiões Sudeste e Sul, a tainha é o único recurso controlado por cotas e ano a ano é aperfeiçoado.
Ele também conta que há um grupo técnico de trabalho que discute com o setor produtivo, com a academia, com o Governo e anualmente ele é aprimorado, justamente por conta da preocupação quanto à exploração do recurso.
“- Se ele é explorado de forma sustentável, a gente consegue manter essa pescaria por muitos e muitos anos” – completa.
Tradição que também movimenta a ciência
A pesca da tainha não é só uma tradição em Santa Catarina. Ela garante o sustento de uma cadeia produtiva que envolve turismo, gastronomia, transportes, exportação e pesquisa. Seja de forma artesanal ou industrial, ela é capaz de mobilizar uma grande rede de pessoas, serviços e comércio. Das 1.850 toneladas capturadas no ano passado, praticamente todas ficaram no Estado. Isso porque há um mercado fiel de consumidores catarinenses.
E não é só a gastronomia local que ela movimenta. Ela também agita o turismo e promove diversos eventos, como o saragaço – uma gincana divertida entre os pescadores, que tem atraído visitantes de todas as regiões.
Há muitos estudos em andamento sobre a tainha e o laboratório de piscicultura marinha da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina -, em Florianópolis, foi o primeiro do mundo a reproduzir todo o ciclo de vida dessa espécie em cativeiro.
Se no mar é preciso contar com ajuda da natureza, condições perfeitas, entre vento e clima, no cativeiro é preciso muito estudo e pesquisa para garantir a tainha o ano inteiro.
“- Aqui no sul, o que faz a maturação das Tainhas para desova é a temperatura mais baixa se a gente tem alguns pavilhões com temperaturas diferenciadas, a gente consegue produzir tainha o ano inteiro” – explica Caio França Magnotti, supervisor do Lapmar UFSC.
A tecnologia está dominada, mas ainda falta uma empresa comprar o projeto para produzir em larga escala. Dessa forma será possível criar uma cadeia produtiva, apta para produzir impostos para o estado, postos de trabalho, novas empresas, novas tecnologias.
“- Tem muitos produtos que hoje a gente ainda não atinge porque a pesca é concentrada em dois, três meses” – comenta Caio.
Fonte de ômega 3
O preço da tainha é um dos principais atrativos entre os consumidores, mas muitas pessoas acham que ela não faz muito bem para a à saúde, devido a gordura que possui.
Segundo o nutricionista Takeo Kimoto, não é interessante retirar a gordura acima do lombo da tainha. Isso porque ela é rica em ômega 3, ótima para proteger nossos neurônios, melhorando a nossa memória, diminuindo os riscos de depressão, de alzheimer e parkinson, por exemplo.
Ele também conta que o ômega 3 também atua na saúde cardiovascular, diminuindo o risco de infarto, aumentando os níveis do HDL – considerado o colesterol bom – e diminuindo o colesterol ruim, além dos triglicerídeos.
Exportação para o mercado asiático
O sabor da ova da tainha é considerado um dos melhores do mundo – Foto: Divulgação
Para os catarinenses, a tainha por si só já é o bastante para encher os olhos e dar água na boca, agora, para outros países do mundo o que interessa mesmo são as ovas, também conhecidas como o “caviar brasileiro”. Isso porque o sabor da ova da tainha é considerado um dos melhores do mundo e muitas pessoas vêm do mundo todo para comprar as ovas aqui no Estado.
Tamiji Yoshimura, proprietário da Yoshi, fábrica de pescados em Porto Belo, conta que um de seus produtos de exportação, com maior valor agregado é a ova da tainha. Ele conta que é o quarto ano que exporta para Taiwan. Durante a safra, toda a produção da fábrica é direcionada para extração e exportação da ova.
“ – No ano passado, por exemplo, produzimos e exportamos 22 toneladas de ovas” – complementa Tamiji.
A coloração e o tamanho das ovas também interferem em seu valor agregado. Na Yoshi ela é exportada em natura, por um valor que vai de 35 a 40 dólares o quilo.
Enquanto as ovas são exportadas, a tainha em si é vendida fresquinha para o mercado interno. E não é só o filé do pescado que é aproveitado. A moela também é exportada e as vísceras servem para a fabricação de ração animal.