Mais de 50 motoristas são multados em uma noite na BR-101, na Grande Florianópolis

Operação acompanhada pelo ND retrata as situações encontradas diariamente pela polícia nas rodovias federais de Santa Catarina

Os policiais começam achegar na sede da primeira delegacia daPRF(Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina, em São José, na Grande Florianópolis, às 20h da sexta-feira (19).

Polícia Rodoviária Federal faz blitz em noite de sábado – Foto: Paulo Mueller/NDTVPolícia Rodoviária Federal faz blitz em noite de sábado – Foto: Paulo Mueller/NDTV

Faz frio com termômetros marcando 10°C na região da capital catarinense. Meia hora depois, inicia uma breve reunião entre os 12 policiais que participarão de mais uma blitz de combate a embriaguez ao volante.

“Nesta operação nós temos policiais do grupo de motociclistas rodoviário, da delegacia de São José e também da Universidade da Polícia Rodoviária”, explica Anderson Koerich, chefe de policiamento e fiscalização da delegacia da PRF/SC de São José.

No pátio, eles recebem as últimas orientações operacionais do esquema preparado para ser executado durante as próximas horas.

Koerich é quem repassa o briefing – termo técnico usado para o conjunto de informações e instruções de um trabalho. Os policiais são divididos em duas equipes para atuarem em duas barreiras simultâneas montadas em pontos estratégicos na BR 101.Anderson Koerich, chefe de policiamento e fiscalização da delegacia da PRF, conversa com a reportagem da NDTV – Foto: Vitor Miranda/NDTVAnderson Koerich, chefe de policiamento e fiscalização da delegacia da PRF, conversa com a reportagem da NDTV – Foto: Vitor Miranda/NDTV

Cerca de 15 minutos depois do encontro, os policiais seguem para a rodovia. Um grupo vai para o quilômetro 202 em São José e o outro para o 214 em Palhoça. Os bloqueios são feitos embaixo dos túneis de acesso aos bairros das cidades. Nove horas em ponto começa a fiscalização.

Segundo a PRF, este é um horário diferente do habitual para este tipo de serviço que geralmente inicia um pouco mais tarde e avança pela madrugada. O foco é a embriaguez, mas os policiais não sabem o que encontrarão no decorrer do trabalho.Blitz realizada em túnel de São José – Foto: Paulo Mueller/NDTVBlitz realizada em túnel de São José – Foto: Paulo Mueller/NDTV

Toda e qualquer tipo de irregularidade é fiscalizada quando eles desconfiam de algo errado com o veículo ou condutor. Uma prática comum de ser flagrada é a película escura demais e em desacordo com a lei.

Este tipo de proteção é permitida desde que apresente transparência mínima de 75% no pára-brisa,70% nos vidros laterais dianteiros e 28% no restante dos vidros.

Automóveis com películas que inviabilizem enxergar o interior têm mais chances de serem parados na blitz. Os motoristas são abordados e convidados a fazer primeiro o teste como etilômetro passivo, aquele com sinal luminoso verde ou vermelho para indicar o consumo de bebida alcoólica.

Por lei o condutor não é obrigado a se submeter ao teste, mas a recusa não impossibilita a aplicação da multa caso os policiais constatem indícios de ingestão de álcool a partir da mudança de comportamento e alterações psicomotoras.

Caso dê positivo é preciso fazer o teste com o equipamento tradicional para constatar a quantidade de teor alcoólico e qual o tipo de punição: prisão ou infração administrativa.

Bastou meia hora para cinco motoristas serem flagrados com indícios de embriaguez depois de soprarem o etilômetro.

“Infelizmente esta é uma pequena amostra do problema, do tamanho do problema que é a embriaguez ao volante. Em pouco tempo de trabalho nós já flagramos vários motoristas dirigindo sob efeito de álcool”, comenta Adriano Fiamoncini, chefe de comunicação da PRF/SC.

Ao ser abordado, um dos condutores chegou a mostrar para o policial uma lata de refrigerante. Mas, quando soprou o bafômetro, não conseguiu escapar da autuação. O sinal vermelho acendeu indicando o consumo de álcool.Condutor mostra lata de refrigerante para comprovar que não ingeriu álcool – Foto: Vitor Miranda/NDTVCondutor mostra lata de refrigerante para comprovar que não ingeriu álcool – Foto: Vitor Miranda/NDTV

De acordo com a PRF, o etilômetro passivo é um aparelho para triagem e não serve para multar, por isto o motorista foi convidado para fazer o teste no bafômetro tradicional, mas se recusou. Mesmo assim ele recebeu a multa de R$ 2.934,70, conforme prevê a lei por apresentar indícios de embriaguez. Uma pessoa habilitada e sem sinais de consumo de álcool foi chamada para conduzir o veículo.

Motorista tenta fugir

Um motorista iria entrar no túnel da BR 101 na praça das Bandeiras em Palhoça quando percebeu a presença da PRF, fez uma manobra e seguiu pela marginal no sentido norte da rodovia.

A situação chamou a atenção dos policiais que seguiram de viatura em acompanhamento dando ordem deparada ao condutor. Ele foi parado em um posto de combustíveis, se recusou afazer o teste de alcoolemia, mas a polícia percebeu alterações psicomotoras e o autuaram por embriaguez. A carteira nacional de habilitação estava vencida. O veículo foi guinchado e o condutor seguiu a pé para casa.Motorista tentou fugir da polícia, mas foi parado em um posto de combustível – Foto: Vitor Miranda/NDTVMotorista tentou fugir da polícia, mas foi parado em um posto de combustível – Foto: Vitor Miranda/NDTV

“O cidadão fugiu. Foi um cidadão de bem que tomou uma cerveja, ponto. Esta foi a infração dele. Mas, poderia ser algo pior, qualquer coisa dentro do universo policial, por isso que não podemos baixar a guarda nunca”, comenta Koerich que realizou a abordagem junto com um colega de farda.

Durante as quatro horas de blitz da lei seca, a PRF multou 54 motoristas por diversas infrações de trânsito, sendo 21 deles por dirigir sob efeito de álcool. Oito veículos foram guinchados porque os condutores estavam embriagados e não apareceu ninguém habilitado para dirigir.

Fora da cadeirinha

Outro flagrante revela o desrespeito a lei e a irresponsabilidade do motorista. Em uma abordagem na barreira montada em São José, o condutor não apresenta sinais de embriaguez, mas a passageira estava no banco da frente com uma criança no colo.

“Uma situação extremamente perigosa. Se o motorista tiver que fazer uma freada rápida, uma freada seca, essa criança vai ser projetada para frente e bater com a cabeça no para-brisa ou no painel do carro. Quem ama seu filho de verdade leva ele lá atrás na cadeirinha bem amarrado”, pondera Fiamoncini.

Pela infração gravíssima, o motorista recebeu sete pontos na carteira, além da multa de R$ 293,47. Desde abril do ano passado vigoram as novas regras para o transporte de crianças.

No banco da frente só é permitido quem tem acima de 10 anos e altura mínima de 1,45m. Menores de um ano e com até 13 quilos devem estar atrás em um bebê conforto. A cadeirinha é obrigatória para crianças entre um e quatro anos ou com peso entre 9 e 18 quilos.

De quatro a sete anos e meio, ou altura até 1,45 m e peso entre 15 e 36 quilos, é preciso usar o assento de elevação no banco de trás. A partir de sete anos e meio, não é necessário nenhum acessório, mas é obrigatório o uso do cinto de segurança.

As regras valem para veículos particulares. Táxis e carros de aplicativos estão dispensados de terem estes acessórios especiais para o transporte de crianças.

Alerta de blitz

Se por um lado a tecnologia facilitou o dia a dia do motorista por meio dos aplicativos de GPS, por outro dificultou o trabalho das policias e guardas municipais.

Isto porque nos próprios aplicativos os motoristas podem informar sobre a fiscalização e alertar outros usuários sobre uma blitz. Nos primeiros minutos da operação de sexta-feira (20), a presença da PRF já estava indicada nos navegadores.PRF realiza blitz em noite de sábado – Foto: Paulo Mueller/NDTVPRF realiza blitz em noite de sábado – Foto: Paulo Mueller/NDTV

“Normalmente as pessoas acham que avisando onde a polícia está irão proteger por exemplo cidadãos de bem. Mas, não! As vezes um sequestro não é flagrado, uma pessoa mais a frente que promove um acidente e causa tragédia para vida de muitas pessoas. Por vezes pode ser este que está informando onde a polícia está”, ressalta Koerich.

Avisar da presença de uma barreira policial é colocar vidas em risco. “Você está alertando possíveis pessoas embriagadas. Então esta pessoa desvia da fiscalização e continua oferecendo risco para ela e para os outros. E mais que isso. Você avisa possíveis criminosos, pessoas que acabaram de roubar um carro, com mandado de prisão em aberto, que podem ter droga dentro do veículo. Assim fica fácil desviar do trabalho policial e toda a sociedade perde com isso”, alerta Fiamoncini.

(ND)

Perseguição

Pouco antes da meia noite, um policial desconfia dá ordem de parada para um motorista na marginal norte da BR-101 na barreira montada em Palhoça. Condutor e passageiro saem do automóvel para o procedimento de checagem de documentos pessoais e do veículo.

Enquanto os policiais realizaram a vistoria, o passageiro foge em direção a região central da cidade. Os policiais rodoviários correm atrás do suspeito que pula muros das casas para se esconder.

A situação assusta os moradores que saem na calçada para tentar entender o que está acontecendo. A PRF procura o homem por mais de uma hora, em terrenos, plantação de bananas, sobe até em telhados, mas ele consegue escapar.

O condutor do carro acabou liberado. Já o veículo acabou guinchado por problemas de licenciamento e falta de equipamentos obrigatórios.

Fiscalização e conscientização

Em Santa Catarina, a PRF conta com um efetivo de 600 policiais para fiscalizar 2,3 mil quilômetros de rodovias federais no estado. Em média, por ano, 350 mil veículos são fiscalizados e 400 mil pessoas abordadas. Alguns motoristas são recorrentes nas infrações.

“Nós pegamos condutores que nos últimos meses tiveram várias multas por ultrapassagem em faixa contínua ou que tem o hábito de beber, mesmo doendo no bolso. Esta é uma constatação até frustrante para nós, mas a gente está trabalhando para tentar melhorar o trânsito”, enfatiza Koerich.

A imprudência e irresponsabilidade estão entre os principais fatores de tragédias nas rodovias federais. Entre 2012 e 2021, foram mais de 122 mil acidentes e 4,4 mil mortes nas BR´s de Santa Catarina.

Mudar estes números depende de melhor infraestrutura, mas também do respeito às leis.

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